Juventude aposta no enfrentamento ao racismo e investimento em cultura para enfrentar a violência no DF

Jovens de várias regiões do DF se reuniram no dia 27/6 no Sarau Grito das Periferias, que ocorreu em Samambaia. O principal objetivo do evento foi a divulgação de propostas elaboradas pela própria juventude para enfrentar os problemas de violência que mais afetam os jovens. Em carta direcionada ao Governo do Distrito Federal, a juventude reivindica questões como enfrentamento ao racismo e incentivo à cultura como estratégia de resistência. O GDF foi convidado, mas não enviou nenhum representante para o evento.

O sarau foi uma iniciativa do “Grito das Periferias: diálogos sobre juventudes e violência”, rede de articulação que reúne cerca de 30 coletivos de jovens de 16 regiões administrativas do DF e três municípios de Goiás.

A maior preocupação dos jovens diz respeito ao extermínio da juventude negra. Relatório recente divulgado pela Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República mostra que a cor da pele dos jovens está diretamente relacionada ao risco de exposição à violência a que estão submetidos. A pesquisa aponta que, em todos os estados brasileiros, à exceção do Paraná, os negros com idade de 12 a 29 anos correm mais risco de exposição à violência que os brancos na mesma faixa etária. No caso específico dos homicídios, o risco de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é, em média, 2,5 vezes maior que uma pessoa branca. O DF ocupa o quarto lugar no ranking de homicídios de jovens negros em relação a brancos.

Na carta, os jovens não dão ênfase somente aos problemas da violência contra a juventude negra, mas também para a violência praticada contra as mulheres e a população LGBT: lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. Segundo o documento, é urgente que se descontrua o “machismo nosso de cada dia”, que cotidianamente faz vítimas entre mulheres, meninas e a população LGBT.

De acordo com Markão Aborígine, músico e educador popular do coletivo Art’sam, o governo precisa investir em políticas públicas e, em especial, naquelas direcionadas para à área cultural para enfrentar o problema. Confira vídeo abaixo com o depoimento do Markão sobre a importância da articulação.

A articulação está discutindo a melhor forma de entregar a carta ao GDF, já que nenhum representante do governo esteve presente no evento.

Mais sobre o evento

Além de várias apresentações culturais, o evento contou com a exibição dos resultados da pesquisa sobre violência realizada na Cidade Estrutural por adolescentes que integram o Projeto Onda. O levantamento apresenta o panorama das violências que afetam a vida de crianças e adolescentes na comunidade.

Márcia Acioli, assessora política do Inesc, afirmou que o processo de discussão entre as redes participantes foi intenso e longo. “A voz da periferia deve ser ouvida, caso contrário não resolveremos o problema.

O embaixador dos Países Baixos Han Peters, disse em seu discurso que o problema da violência não é fácil de se resolver, mas “que é função do Estado proteger e promover o direito de cada ser humano” (fatores que são tidos como prioridade pela embaixada).

Rede

O Grito das Periferias é fruto de articulação promovida pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores (Renajoc), Coletivo da Cidade (Estrutural), Art’sam (Samambaia), Família Hip Hop (Santa Maria) e Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca), com o apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos.

Artistas que participaram do evento

MC Metralha

BSB Girls (dança)

Fernando Borges (Poesia)

Ideolgia e Tal (Rap)

Alex Suburbano (apresentação do documentário “Somos todos nós)

Haynna (contora de MPB)

Marcelo Caetano (Poesia)

Frente Feminista Periférica

Artistas do Coletivo AtSam

Companhia de Teatro Bisquetes

Foto: Rodrigo Jorge

Texto: Gisliene Hesse