
Uma grande mobilização reuniu estudantes, professores e gestores do Centro Educacional 04 (CED 04), localizado no Guará (DF), na última quinta-feira (9/6). O motivo foi a decisão do Governo de Brasília de cortar o transporte escolar dos meninos e meninas que estudam na unidade e moram na Cidade Estrutural, que fica a cerca de 10km de distância.
O benefício será cortado para todos/as os/as alunos/as com mais de 10 anos a partir do dia 15 de agosto. O governo alega que meninos e meninas podem fazer o deslocamento por meio do transporte coletivo, utilizando o passe livre. No entanto, não oferece proposta de solução para a falta de transporte público eficiente que conecte as duas cidades. “São apenas três microônibus diariamente que não atendem nem os adultos que moram na Estrutural e precisam ir para o Guará. Imagina só como vai ser quando tiverem que dar conta também dos estudantes”, explica uma das alunas. Além de tudo, as rotas dos ônibus e seus horários não atendem às necessidades dos estudantes.
Manifestação
Preocupados com os impactos que a medida vai ocasionar no dia a dia da vida escolar, cerca de 300 estudantes do CED 04 fizeram uma caminhada da escola até a Administração Regional do Guará, onde se reuniram com representantes da administração, do batalhão escolar e dos conselhos tutelares do Guará e da Cidade Estrutural. Foram definidas ações como a realização de uma audiência pública, intervenção direta junto aos secretários de Educação e de Transportes, e o acionamento do Ministério Público.
Ausência de escolas
A necessidade de deslocamento dos/as estudantes do ensino médio que moram na Cidade Estrutural para outras cidades do Distrito Federal é um problema antigo. Mesmo com uma população estimada em mais de 39 mil pessoas, não existe ali uma única escola de ensino médio para atender os meninos e meninas durante o dia (apenas Educação de Jovens e Adultos – EJA, à noite). Como consequência, os/as adolescentes precisam ser deslocados/as para unidades de ensino em outros locais, como o Guará, o Cruzeiro e Taguatinga.
Essa questão, aliás, foi com frequência problematizada durante as oficinas do projeto Adolescentes Protagonistas, iniciativa do Inesc com patrocínio da Petrobras, realizadas neste ano na escola e focadas no debate sobre educação de qualidade. Os/as estudantes não se cansaram de levantar a voz para denunciar a situação precária da educação na cidade onde moram, mas, principalmente, para colocar na roda a preocupação com o fim do transporte escolar, anunciado no início do ano pelo Governo de Brasília.
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, uma professora que não quis ter a identidade revelada por medo de represálias ressaltou a preocupação com a evasão escolar. “Mais de 90% dos estudantes que moram na estrutural estudam em outras regiões. Se o transporte for cancelado, eles não terão condições de estudar. A nossa preocupação é que eles percam o ano letivo. O prejuízo pedagógico é enorme”, disse.
Há que se ressaltar, ainda, que, além do desgaste com o deslocamento diário, os estudantes da Cidade Estrutural ainda enfrentam, com frequência, o preconceito de estudantes que moram nas outras cidades, já que há um estigma pesado sobre os moradores da Cidade Estrutural, região com a menor renda per capita do Distrito Federal (R$ 522), de acordo com o último levantamento realizado pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).