A última quinta-feira (30/06) foi bastante agitada para o projeto Adolescentes Protagonistas. Ao longo de todo o dia, foram realizadas duas oficinas sobre educação de qualidade: pela manhã no Quilombo Mesquita, localizado na Cidade Ocidental (GO), e à tarde na Unidade de Internação de Santa Maria (UISM).
Em ambos os locais, o objetivo era trabalhar o conceito de território educador, mas, para isso, antes era necessário desenvolver o conceito de educação em si. O que é educação e, mais especificamente, educação de qualidade?
Embora os dois grupos fossem compostos por meninos e meninas que vivem realidades completamente distintas, os dois principais pontos levantados foram os mesmos: respeito e compreensão da educação como um processo contínuo, sem fim. “Tudo o que a gente aprende na vida desde que nasce até morrer. Não para nunca”, sintetizou um dos meninos de Mesquita.
Encontro com a história
O debate sobre território educador no Quilombo de Mesquita proporcionou às crianças e adolescentes a oportunidade de resgatar e conhecer um pouco da história do povoado onde vivem. No espaço onde a atividade era desenvolvida, a fotografia de uma senhora chamou a atenção de uma das 32 crianças que participavam da atividade. Quem era aquela mulher e porquê a foto dela estava ali?
A curiosidade levou todos até a cozinha, onde encontrava-se Bruna, neta da Maria Patriarca, a senhora registrada na fotografia. Neta de escravos, Maria se mudou para aquela terra que havia ganhado de um patrão e, juntamente com duas irmãs, começou a povoá-lo. Felizes por conhecerem mais sobre a história do lugar e daquela mulher, os meninos e meninas fizeram vários registros da fotografia e fizeram questão de tirar uma foto do grupo com a imagem.
A discussão sobre território educador, contudo, não findou por aí. As crianças e adolescentes também definiram o que seria, para eles, um território educador: “lugar (ou uma prática) em que as pessoas aprendem”. Para eles e elas, isso se dá em situações como as rodas de conversa dos mais velhos, as festas, os lugares tradicionais como o casarão, a igreja, a escola, as modas de viola, sem esquecer da história, da cultura, da comida e de hábitos. Boa parte disso foi representado nos desenhos da comunidade que eles e elas fizeram durante a oficina.
Aprendizagem na sobrevivência
Se no debate sobre os conceitos de educação e educação de qualidade as meninas da UISM se mostraram bastante alinhadas com as crianças e adolescentes do Quilombo de Mesquita, a distância entre as duas realidades ficou fortemente evidenciada quando a discussão mudou o foco para a concepção de território educador.
Para as nove meninas que encontram-se hoje em situação privação de liberdade na unidade, território educador não existe. Nem na UISM, nem nas cidades onde elas vivem. Ao serem questionadas sobre o que aprendem e como aprendem, as respostas ressaltavam as estratégias de sobrevivência como o meio mais comum de aprendizagem. O entendimento é de que elas aprendem a se virar. A serem falsas para driblar as situações que as violentam de alguma maneira. Que a vida ensina. Que todas têm em comum histórias de muitos sofrimentos.
A tarde foi encerrada com muita tinta e papelão, já que em oficinas anteriores as meninas tinham manifestado o desejo de trabalhar com pintura. Com o material em mãos, elas decidiram retratar a vida e o processo de educação, porque para elas era impossível desenhar um território educador, já que não consideram nem o espaço onde estão e nem aqueles em que viviam antes como educador. Divididas em dois grupos, as produções foram inspiradoras: uma menina soltando um pombo em meio a muitas flores e um mundo, com muitas estrelas e pássaros voando, no qual uma menina caminha, cai e levanta.
O projeto Adolescentes Protagonistas é uma iniciativa do Inesc com o patrocínio da Petrobras.