Sensibilidade e reconhecimento pautaram a oficina de fotografia realizada no último dia 23 na Unidade de Internação de Santa Maria (UISM). Conduzida pelo oficineiro Webert da Cruz, a atividade estimulou não apenas um novo olhar para o universo que as cerca, mas também uma nova forma de se enxergarem.

A oficina começou com a apresentação de cada uma das meninas, seguida do registro fotográfico de alguém do grupo que seria a próxima a se apresentar. Na sequência, foram feitos dois círculos, sendo um dentro do outro. Quem estava do lado de fora do círculo deveria olhar nos olhos da colega que estava à sua frente. Enquanto elas se olhavam, tocava a música O Seu Olhar, do cantor e compositor Arnaldo Antunes.

No início, as meninas não conseguiram se concentrar e estavam com vergonha de olhar nos olhos umas das outras. Mas quando a atividade acabou, elas pediram para repetir. Bem mais concentradas e com menos vergonha de olharem no fundo dos olhos das colegas, o resultado foi impactante. Elas externaram a dificuldade de olhar nos olhos e relataram a intensidade do momento e a oportunidade que tiveram de reparar na cor dos olhos de cada uma.

Mãos à obra
Passada essa etapa inicial, a oficina foi direcionada no sentido de apresentar às meninas algumas técnicas de fotografia. Antes de saírem para fotografar, contudo, elas se dividiram em grupos. Cada grupo escolheu uma imagem entre as revistas disponibilizadas. Um grupo escolheu a foto de homens em um presídio, sentados de costas para a câmera com as mãos na cabeça e agentes/policiais de frente para eles. Disseram que lembrou a realidade delas. Outro escolheu a foto de uma paisagem e conseguiu reconhecer o ponto de ouro da foto. O terceiro escolheu também uma paisagem meio sombreada e reconheceu a técnica de moldura.

Com o olhar apurado e apresentadas a algumas técnicas de fotografia, finalmente chegou a hora mais aguardada pelas meninas: a saída do módulo para fotografar. Elas puderam percorrer grande parte da unidade e se sentiram à vontade para registrar o que achavam relevante.

“Foi uma experiência linda desde o primeiro momento. Elas quase nunca olham nos olhos e, muito menos, são olhadas. Só andam de cabeça baixa. Sentimos um afeto e uma emoção muito grandes ao vivenciar o momento do olhar. Depois, vê-las utilizarem as técnicas para tirar as fotos e mostrar o que queriam sobre aquele lugar foi incrível”, sintetiza Thallita Oliveira, educadora do Inesc.

O resultado desse encontro marcante será apresentado no próximo mês para elas, quando será feita a exposição das fotografias na unidade, juntamente com o lançamento do boletim Direitos na Comunidade que elas redigiram. A oficina de fotografia foi uma atividade do projeto Adolescentes Protagonistas, iniciativa do Inesc com o patrocínio da Petrobras.