“Eu tô muito feliz por alguém estar olhando pelas nossas filhas e ajudando a recolocar elas na sociedade. O que elas precisam, mais do que qualquer coisa, é de educação”. Com esse depoimento, a mãe de uma das adolescentes que cumpre medida socioeducativa de privação de liberdade na Unidade de Internação de Santa Maria (UISM) marcou o encontro com familiares das meninas durante o qual foram lançados o boletim Direitos na Comunidade e a exposição de fotografias registradas por elas.
A atividade aconteceu no último sábado (11) antes do horário de visita na instituição e contou com a presença de mães, avós e primas das adolescentes. Também participaram do encontro três funcionárias da instituição e duas colaboradoras da Coordenação de Semiliberdade da Subsecretaria do Sistema Socioeducativo (Subsis), Letícia Guercio e Janaína Guerra.
Carinho e confiança
O lançamento do boletim e da exposição foi precedido de uma breve fala da coordenadora do Adolescentes Protagonistas, Márcia Acioli. Ela apresentou o projeto e ressaltou o carinho e a confiança que a equipe do Inesc tem com as meninas que cumprem medida socioeducativa na UISM. “Nós tivemos uma empatia imediata. Desde o primeiro encontro elas nos conquistaram de uma forma especial. Durante as oficinas, fomos conhecendo melhor cada uma e identificando os talentos e potencialidades delas. Acreditem, as filhas, netas e primas de vocês são meninas muito inteligentes e com grande potencial”, ressaltou.
Na sequência, Márcia explicou o processo de produção do boletim e das fotografias que compõem a exposição, montada no corredor principal da administração da Unidade. “Todas essas fotos foram registradas pelas meninas. Quando vocês descerem, falem para elas o que vocês viram aqui. Isso é importante para motivá-las”.
Educação profissionalizante
O tema escolhido pelas meninas para trabalhar no boletim deste ano foi ensino profissional nas unidades de internação. Embora esse seja um eixo importante no processo de socioeducação, inclusive previsto no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), o oferecimento de atividades nessa linha ainda é insuficiente e não universaliza o direito. Além de baixa oferta, o que é oferecido não atende às demandas, aos talentos e vocações das meninas nas instituições de privação de liberdade no Distrito Federal.
Como elas relatam no documento, ao longo de 2016 foi oferecida apenas a oficina de panificação. Elas não foram ouvidas sobre cursos de interesse e pedem que os gestores responsáveis olhem com atenção para a situação delas. “Acreditamos que os cursos nos ajudariam a conseguir trabalho para que possamos nos manter e ajudar as nossas famílias. Sem falar que, quando estivermos em liberdade, poderão abrir novos caminhos para nossas vidas pessoais e profissionais, o que faria que o tempo de internação não fosse um tempo desperdiçado”.
Durante a elaboração do boletim, as meninas tiveram a oportunidade de conversar com o subsecretário do Sistema Socioeducativo, Paulo Távora. Elas compartilharam um pouco dos seus sentimentos com relação a este ponto e ouviram dele os encaminhamentos e projetos da Subsis para reverter a situação atual.
Olhar atento
Dois fatores chamaram a atenção de quem viu as fotografias registradas pelas meninas: o significado das imagens e a representação do dia a dia delas dentro da unidade.
Uma porta entreaberta, a visão obtida a partir de pequenos espaços vazados entre as paredes e os corredores onde ficam os quartos delas estão entre as imagens retratadas. Também teve destaque a quantidade de registros de flores, céu e espaços abertos da unidade, ambiente pouco frequentados por elas.
A atividades para a elaboração do boletim e da exposição de fotografias foram realizadas durante as oficinas do projeto Adolescentes Protagonistas, iniciativa do Inesc com o patrocínio da Petrobras.